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Estado de Contingência

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27
Set20

Trump, um sonho americano, um pesadelo mundial

João Miguel Almeida

Os resultados das próximas eleições norte-americanas vão tem um impacto imenso em todo o mundo. E não há resultado mais contingente do que o das próximas eleições norte-americanas. A questão não é só saber se as eleições são ganhas por Trump ou Biden, é saber se, em caso de derrota, Trump aceita sair pacificamente do poder ou atira o país para uma guerra civil de contornos indefinidos.

A primeira temporada, constituída por quatro episódios, da série documental «Trump, um sonho americano», disponível na Netflix, dá-nos algumas pistas para compreender a personalidade de Donald Trump e o fenómeno social, mediático, político, que representa. Quem pensa que Trump é um idiota chapado que chegou a Presidente dos Estados Unidos apenas por causa da família donde veio e de uma série de acasos está enganado. Trump é uma besta inteligente e determinada. Com a idade estará a ficar mais besta e menos inteligente, mantendo a determinação.

Ao ver a série percebi que o pouco que sabia do background de Trump fora condicionado pelo tipo de preconceitos que subestimaram o fenómeno e lhe abriram o caminho para o poder. Trump, pensava eu, limitara-se a continuar o negócio imobiliário da família e tornara-se conhecido devido a um programa de televisão, «The Apprentice».

É uma visão muito simplificada do trajeto de Trump. A sua ascensão começa na década de 1970, quando Nova Iorque está submersa no medo pela criminalidade e os novaiorquinos sentem-se angustiados por uma sensação de crise e decadência. Trump vê «na crise uma oportunidade» e abre caminho no mundo de negócios do imobiliário num sentido muito diferente do pai, que fez muito dinheiro, mas a «fazer casas reais para pessoas reais». Trump não quer construir casas para vender uma vida de conforto a famílias da classe média. Trump constrói edifícios de luxo para captar clientes hiper ricos e afagar os sentimentos megalómanos da classe média que quer enriquecer. Começa por restaurar um hotel de luxo, constrói a Trump Tower, restaura um ringue de patinagem que estava em ruínas, entusiasmando os habitantes de Nova Iorque. Faz tudo isso com a ajuda de um advogado de famílias mafiosas, o apoio da imprensa e o consentimento relutante do mayor de Nova Iorque que lhe concede astronómicos benefícios fiscais.

Na sua primeira entrevista na televisão, no início da década de 1980, é-lhe colocada a pergunta sobre o que que faria se fosse à falência e responde que «candidatava-se à presidência da República». A hipótese de Trump entrar na política é levada a sério por alguns desde 1988. Por volta do ano 2000 está quase a ser candidato pelo partido reformista, mas não chega à entrar na corrida, pois «só entraria na corrida presidencial se tivesse hipóteses de ganhar». Soube esperar pelo momento certo.

A sua vida privada não é separável da sua vida pública. É divertido ouvi-lo a dizer que «Citizen Kane» é o seu filme preferido e que o sentido do filme é que não basta acumular coisas para alcançar a felicidade. Quanto mais sucesso Kane tem, mais se afasta da mulher. Perante a pergunta «que conselho daria a Charles Foster Kane?» Responde: «dizia-lhe para arranjar outra mulher». Foi o que Trump fez várias vezes ao longo da sua vida, sem deixar de ser um «homem de família», que mantém os filhos no seu círculo de confiança mais íntimo.

Trump não é um nome que vá ser varrido da política nas próximas eleições. Infelizmente, será um nome chave para compreender o século XXI.

 

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